O poeta e ator Gregorio Duvivier, do canal de humor Porta dos Fundos, foi o destaque da primeira mesa efetivamente sobre literatura da 12ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), nesta quinta-feira (31). O comediante saiu ovacionado ao ler um texto contra os xingamentos dirigidos às mulheres, teve aprovação ao julgar que "o humor hoje em dia perdeu a humanidade, o afeto" e ganhou aplausos intensos ao citar uma crônica do próximo livro na qual traduz para o inglês (literalmente) expressões do português. "You know nothing, innocent" ("sabe de nada, inocente") era uma delas.
Charles Peixoto, Eliane Brum e Gregorio Duvivier em mesa da Flip nesta quinta (Foto: Flavio Moraes/G1)
A mesa 1 da Flip teve outros dois participantes: a
Já em sua primeira intervenção, logo após Eliane Brum, Gregório conquistou a audiência na
Durante sua apresentação, a jornalista optou por ler um texto – sobre si mesma e a própria trajetória – escrito previamente. Durante cerca de dez minutos, pareceu emocionada ao dizer coisas como "a palavra escrita me salvou, me deu um corpo para viver, e não para morrer". Também se lembrou de uma garota de 11 anos que tinha doença de Chagas e foi personagem de uma matéria: "A morte respirava dentro dela".
Duvivier e Charles Peixoto, por outro lado, substituíram o drama e a sensibilidade declamada pelo tom cômico. O segundo chegou a dizer na
Mas o favorito dos presentes, ao menos se o critério forem os risos provocados, foi mesmo Duvivier. Bastante disposto a citar a influência de Millôr Fernandes, homenageado na Flip 2014, ele opinou que "hoje em dia perdeu a humanidade, as pessoas confundem com galhofa, falta de educação, virou uma coisa sem afeto". Millôr, na sua visão, é o (bom) exemplo a ser seguido, já que "tinha a ver com poesia" e demonstrava "ingenuidade, apesar de ser cético e do cinismo".
Quando Miguel
Falando especificamente sobre o Porta dos Fundos, apontou que o grupo não faz "nenhuma crítica nominal" nem menciona minorias. "A gente evita porque este é um momento em que o humor deixa de ser humor e vira agressão. A ternura é um ingrediente funalmental."
Já a defesa das mulheres foi tirada de um texto que vai estar em seu próximo livro, a ser publicado em novembro. A crônica, publicada em janeiro no jornal "Folha de S.Paulo", do qual Duvivier é colunista, começa com uma lista de xingamentos: "puta, piranha, vadia, vagabunda, quenga, rameira, devassa, rapariga, biscate e perigute...". A ideia era demosntrar que, para ofender as mulheres, usam-se palavras que apelam a um suposto comportamento sexual condenável.
Para provar o argumento, o autotr contou que, por discordar de uma certa medida da presidente, alguém pode dizer: "Brother, essa Dilma é uma piranha!". "Nunca vi ninguém dizendo que o Lula é feio: 'O Lula foi um bom presidente, mas no segundo mandato embarangou'." Em tom bem humorado, observou que "até quando a gente quer bater no homem, é na mulher que a gente bate".
Em outro trecho, falou que "o xingamento mais universal do mundo é o que diz: 'sua mãe vende o corpo". "A mulher nem sempre tem culpa", finalizou. Foi a passagem mais aplaudida de todo o debate, que se chamava "Prosa & Poesia", mas viu sobressair o humor.
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